Quando se aproximavam as 18h la começava a ficar mais ansioso. Era tempo de vestir o kispo e ir com os meus pais e irmãos para casa dos meus avós, onde passávamos sempre a noite de Natal. Jantávamos, jogávamos o loto e era uma festa quando se ficava "à melhor" e pedia com toda a força que o número saísse. Pelo meio, o meu tio Carlos lá fazia as palhaçadas do costume, mas que tão bem nos sabia a todos e deixava um sorriso presente em cada um de nós. A hora aproximava-se. Eu e as minhas primas espreitávamos pela janela, olhando para o céu estrelado na expectativa de encontrar algo que se movesse a uma grande velocidade. Nesses segundos em que olhava, mil e uma imagens se atravessavam no meu pensamento. A esperança e a inocência que só as crianças têm.
O relógio velho dava as 23.30. Eu sabia, porque era hábito, que só ia ver as prendas na manhã seguinte, mas as minhas primas já estavam em pulgas. Por um lado eu não me importava, até preferia assim. Tinha outro sabor vê-las só de manhã. E pronto, meia-noite! A minha prima corria pelo corredor de pedra até casa e ao fim de algum tempo, lá acabava por se juntar a família toda. Por volta das 2/3 da manhã, íamos para casa e já sabíamos que o almoço do dia seguinte era novamente com a família toda.
Chegado a casa, o cansaço desaparecia e deitava-me imaginando o que estaria debaixo da árvore. Era uma noite de sonhos e ao mesmo tempo de pouco sono, porque como que por artes mágicas, era sempre o primeiro a levantar de manhã. Às 9, já ia eu a caminho da porta do quarto. Ia até à sala, avisando os meus pais pelo caminho e ninguém me parava!...
A magia do Natal é isto! A família toda unida, a esperança e a fé de que coisas boas virão a caminho (para as crianças sob a forma de presentes, para os adultos sob a forma de saúde e alegria entre outras coisas) numa época de paz e harmonia, onde se esquece, ou tenta-se esquecer, o trabalho e os problemas que a todos afectam.
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