julho 09, 2008

saudade...

Era um miúdo traquina como tantos outros, mas ainda mais! Um bocadito mais gordito que eu mas não tão bonito, diziam elas. Mas ele sabia-la toda. Sempre foi muito atrevido e aí ganhava-me aos pontos. Longas foram as noites em que nas varandas apenas separadas por um muro, falávamos de tudo um pouco. Brincávamos com carros de alta cilindrada (para a altura!) cada um no seu parapeito, fazíamos filmes, contávamos as estrelas, ríamos com as anedotas que inventávamos para as vizinhas de cima e do lado. E era assim quase todos os dias a seguir ao jantar.

Ele era do Benfica, mas nunca nos chateámos por causa da bola. Ele jogava bem melhor que eu, mas eu tinha o dom de cada bola que tocava ir parar ao fundo da baliza, algumas delas vá-se-lá saber como, mas iam!!! Aos fins de semana, como tínhamos mais tempo livre íamos para o quintal. O dele tinha uma barraca que ocupava quase meio quintal. Ao meio uma rede separava ambos, mas era como se lá não estivesse. Jogávamos andebol com uma bola daquelas de raquetes de ténis de praia. Ele abria sempre a porta da barraca para não termos que discutir se era golo ou não. A baliza dele era na vertical e a minha na horizontal, mas não importava. A gente queria era jogar! Tem piada, hoje que penso, o ano em que finalmente iríamos andar juntos na mesma escola (Pêro da Covilhã) apesar de em turmas diferentes foi o ano da partida. Os pais decidiram ir viver para Lisboa. Desde aí conto pelos dedos da mão as vezes que nos voltámos a ver. A última foi há 10 anos na Expo 98, vivia ele em Massamá. Na altura a internet e mesmo os telemóveis não era o que são hoje. Não era fácil manter o contacto..

No fim de semana a minha mãe arranjou o número da telefone da "vizinha". Na 2ª liguei-lhe. A voz estava igual. A alegria apoderou-se de ambos os lados do telefone. Ao tempo! Do pouco que falámos soube que o Aires, assim lhe chamava a maioria, já era pai e que já há alguns anos que vivia em Angola. Ela ficou de me dar os contactos dele. Fico a aguardar. Entretanto vou recordando aquilo que em infância nunca se esquece: o 1º amigo. A minha memória para as datas já não é a mesma, mas há algumas que sei que nunca esquecerei. Uma delas é 9 de Julho. Parabéns Hugo.

3 comentários:

Peter disse...

Bonito!

Deixaste-me com "Uma lágrima no canto do olho"

Anónimo disse...

Amizade!

Sim, porque foi isto que escreves-te nestas pequenas linhas. As verdadeiras nunca sao esquecidas pelo coração mesmo que as vistas nao se cruzem.

l00ker disse...

Hoje finalmente consegui falar com ele, que por acaso esta em Portugal! :,) para semana ficou combinado o encontro. Eh por momentos como este que vale a pena esta longa viagem...